#54 - O começo dos museus, a Gismonda de Mucha e o coelhinho da Lindt
Na edição de hoje, vamos falar sobre os cabinets de curiosité, a virada na carreira de Alphonse Mucha e a história do Lindt Gold Bunny. Vamos começar?
Bom dia, #interessada!
A novidade da semana é que estou mandando a newsletter pelo Substack pela primeira vez!!
De um lado, estou tensa, orando para dar tudo certo. De outro lado, estou muito feliz porque poderemos ter mais interações! Aqui, você pode curtir e comentar, então, posso te pedir um favor?
Seja uma emocionada! Curta, comente, compartilhe, vamos trocar ideia! Aproveite para conhecer outras interessadas como você. Combinadas? 😀
CULTURA
Os precursores dos museus modernos
Imagine que você é uma aristocrata do século XVII. Depois de um jantar à luz de velas, seus convidados se acomodam no salão e esperam ser entretidos. Nada de celulares, nada de filmes, nem uma playlist para salvar o momento. O que fazer?
Mostre a eles o que você tem de mais interessante!
Os cabinets de curiosité eram o passatempo preferido de nobres, comerciantes ricos, artistas e estudiosos dos séculos XVI e XVII. Eram espaços onde se colecionava todo tipo de objeto raro ou curioso.
Em uma época de grandes descobertas e explorações, esses gabinetes abrigavam de tudo um pouco: fósseis, conchas exóticas, esqueletos de animais estranhos (e às vezes, criaturas míticas montadas só para impressionar), relíquias religiosas, artefatos históricos, antiguidades e até peças de arte.
Mas não era só um hobby. Ter um cabinet de curiosité era também uma forma de mostrar status e reforçar a posição social. Um gabinete bem abastecido dizia ao mundo: "Olha só como sou culto, viajado e sofisticado!"
A arte de colecionar o mundo
No auge da moda dos gabinetes de curiosidades, entre os séculos XVI e XVIII, eles podiam variar desde móveis repletos de gavetas secretas até salas inteiras dedicadas a exibições espetaculares. E os objetos dentro deles eram divididos em duas categorias principais:
Naturalia: tudo o que não foi feito pelo homem — fósseis, conchas raras, esqueletos de criaturas bizarras e até monstros costurados para parecerem reais.
Artificialia: tudo o que foi produzido pela humanidade — esculturas, moedas antigas, instrumentos científicos e obras de arte.
A disposição dos objetos não seguia uma ordem lógica ou científica. Cada gabinete era um reflexo da mente do colecionador, misturando ciência, filosofia e imaginação em um grande mood board da época.
Dos Gabinetes aos Museus
Muito mais do que meras exibições de vaidade, os cabinets de curiosité — ou Wunderkammer, como eram chamados nos países germânicos — foram os precursores dos museus modernos. Eles eram uma forma de tentar organizar o mundo em miniatura e dar aos colecionadores a ilusão de controle sobre um universo vasto e caótico.
Com o tempo, esse espírito enciclopédico deu lugar a um desejo maior de catalogação e acessibilidade. No século XVIII, surgiram os primeiros museus, tornando as coleções mais organizadas e abertas ao público.
Vários dos museus mais icônicos da Europa nasceram a partir dessas coleções privadas:
Museu Britânico (Londres) — Originado da coleção do médico Hans Sloane.
Kunstkamera (São Petersburgo) — Criado a partir do gabinete de Pedro, o Grande.
Galeria Uffizi (Florença) — Evoluiu da coleção dos Médici.
Museu do Prado (Madri) — Derivado do Gabinete de História Natural de Carlos III da Espanha.
Castelo de Ambras (Áustria) — Casa o Wunderkammer do arquiduque Fernando II.
O primeiro museu público do mundo, o Museu Ashmolean em Oxford, surgiu quando Elias Ashmole doou a coleção que havia adquirido de John Tradescant, abrindo-a ao público em 1677.
Uma Herança de Maravilhas
Hoje, os museus continuam com o espírito dos antigos gabinetes, mas com um toque de organização (e menos criaturas bizarras inventadas). Ainda assim, a fascinação pelo exótico e pelo desconhecido segue firme. Quem nunca entrou em uma exposição e sentiu aquela curiosidade de colecionador renascentista diante de um artefato misterioso?
Os cabinets de curiosité foram uma maneira de organizar o caos do mundo dentro de quatro paredes. Eles refletem o desejo humano de explorar, colecionar e contar histórias. E, se pensarmos bem, cada estante cheia de livros, cada caixa de memórias e cada museu que visitamos carrega um pouco desse desejo ancestral de compreender o universo — peça por peça.
“Você pode ter tudo o que quiser, mas não ao mesmo tempo, e, se acha isso triste, considere que, se tivesse tudo ao mesmo tempo, não experimentaria ou desfrutaria de tudo por completo.”
Trecho do livro “101 reflexões que vão mudar sua forma de pensar”, de Brianna West
ARTE
Mucha & seu golpe de sorte
Sabe aquele ditado: "a sorte vai te encontrar trabalhando"? Foi exatamente isso que aconteceu com um dos maiores artistas do período Art Nouveau, Alphonse Mucha. No final de 1894, ele era um ilustrador pouco conhecido em Paris, mas um golpe do destino – e muito talento – mudaria sua vida para sempre.
Do Interior da Morávia para a Cidade das Luzes
Mucha nasceu em 1860, na região da Morávia, que hoje faz parte da República Tcheca. Desde pequeno, mostrava interesse por arte, mas seu primeiro sonho não era exatamente se tornar pintor – ele queria ser cantor. Quando sua voz falhou na adolescência, ele direcionou seus talentos para o desenho. Após ser rejeitado pela Academia de Belas Artes de Praga, encontrou trabalho pintando cenários para teatros e igrejas.
Aos 27 anos, mudou-se para Paris para estudar sustentando-se com ilustrações para revistas e livros. O sucesso, no entanto, ainda parecia distante. Até que, no final de 1894, uma das mulheres mais influentes da época cruzou seu caminho.
O Pôster Que Mudou Tudo
Na véspera de Ano Novo de 1894, a atriz Sarah Bernhardt precisava urgentemente de um cartaz para divulgar a peça Gismonda, que estrearia no Théâtre de la Renaissance. Como todos os artistas disponíveis estavam fora, o impressor Lemercier sugeriu Mucha, que trabalhava no estúdio naquele momento.
Mucha aceitou o desafio e, em poucos dias, criou um pôster que quebrou todos os padrões da época. Diferente dos cartazes tradicionais, Gismonda era alto e estreito, tinha cores suaves e uma composição que lembrava um ícone bizantino. Sarah Bernhardt aparecia imponente, com uma túnica longa e detalhes dourados, cercada por um arco decorado que dava a sensação de grandiosidade.
Quando os pôsteres foram colados pelas ruas de Paris em janeiro de 1895, causaram um verdadeiro frenesi. As pessoas tentavam arrancá-los das paredes para levar para casa. Bernhardt ficou tão encantada que ofereceu a Mucha um contrato de seis anos para criar não apenas seus cartazes, mas também cenários e figurinos. Assim, nascia o "Estilo Mucha", que se tornaria a assinatura visual da Art Nouveau.
O Legado de Mucha
Após o sucesso de Gismonda, Mucha se tornou um dos artistas gráficos mais requisitados da Europa. Criou pôsteres icônicos para perfumes, chocolates, campanhas políticas e até rótulos de champanhe. No entanto, com o passar dos anos, ele começou a se sentir desconfortável com a associação de sua arte ao puro comercialismo. Seu verdadeiro sonho era algo maior.
Nos anos 1910, voltou à sua terra natal e dedicou-se à criação de sua obra mais ambiciosa: A Epopeia Eslava, 20 pinturas gigantes ( chegam a 6m x 8m) que, juntas, contam a história dos povos eslavos. Esse trabalho, que levou quase duas décadas para ser concluído, era sua maneira de retribuir à sua pátria.
Infelizmente, a ascensão dos regimes totalitários na Europa trouxe tempos difíceis. Em 1939, com a invasão nazista na Tchecoslováquia, Mucha foi preso e interrogado pela Gestapo devido ao seu envolvimento com o nacionalismo eslavo. Ele foi libertado, mas sua saúde se deteriorou rapidamente, e ele faleceu poucos meses depois, em julho de 1939.
Seu estilo inconfundível ainda influencia designers e artistas ao redor do mundo, e suas obras seguem sendo admiradas como um dos maiores símbolos da Art Nouveau. Se não fosse por aquele dia no estúdio, quando o destino o colocou no caminho de Sarah Bernhardt, talvez o mundo nunca tivesse conhecido o esplendor do "Estilo Mucha".
COISA CHIQUE
A história do coelho da Lindt
Passou o Carnaval, já começamos a contagem regressiva para a Páscoa. Todo ano eu compro aquele coelhinho dourado da Lindt, e ele tem uma história muito bonitinha, sabia?
Em uma Páscoa, a filha de um Maître Chocolatier da Lindt avistou um coelho na grama enquanto a família tomava um tradicional brunch pascal. Encantada, ela perguntou se podia sair para brincar com ele. O pai disse que sim, mas, assim que ela correu para a porta, o coelho desapareceu nos arbustos.
Por dias, a menina ficou inconsolável, triste por não ter conseguido brincar com o coelhinho. O pai, querendo animá-la, teve uma ideia genial: ele criaria um coelho para que sua filha sempre pudesse encontrar o amiguinho da Páscoa.
E assim, em 1952, nasceu o Lindt Gold Bunny. Todos os anos, depois desse momento, sua filha esperava ansiosa para caçar seu pequeno coelho dourado no jardim com a família.
A contribuição de Lindt para o mundo do chocolate
Você já deve saber que a Lindt é uma das marcas de chocolate mais famosas do mundo, certo? Isso não é por acaso. O que fez a Suíça se tornar referência em chocolate foi um erro de Rodolphe Lindt, no final do século XIX.
Naquela época, o chocolate era rígido e granuloso, nada parecido com o que conhecemos hoje. Mas, em 1879, o sr. Lindt esqueceu uma máquina ligada durante um fim de semana. Quando voltou, encontrou uma massa de chocolate incrivelmente homogênea e brilhante. Ele havia descoberto, sem querer, o processo de conchagem, que refinava o chocolate e o tornava suave, derretendo na boca. Foi esse momento que colocou o chocolate suíço no mapa e mudou a história da confeitaria para sempre - para nossa felicidade! imagina viver sem chocolate, cruz credo. rs
Hoje, o chocolate suíço é referência mundial, mas essa história começa muito antes dos mestres chocolatiers europeus. Originário da América Central e do México, o cacau já era considerado um presente divino pelos Maias e Astecas. Suas sementes eram tão valiosas que serviam como moeda de troca, e a bebida espessa e amarga chamada xocoatl (que deu origem à palavra chocolate) era reservada para rituais e para a elite.
Assim como outros alimentos nativos das Américas, o cacau percorreu um longo caminho até se tornar “famoso” na Europa. E esse é justamente o tema da aula da Klavis de hoje, com Cíntia Rolland. Professora e doutora em História, Cíntia já integrou diversas missões arqueológicas no Egito, atuou como conselheira científica no Museu do Louvre e foi pesquisadora no Museu de Arte de São Paulo.
Hoje, ela nos guiará por uma parte da história que não aprendemos na escola.

DONA DE EMPRESA
#3: Sua ideia de negócio é boa?
Na edição de ontem do “Dona de Empresa”, minha newsletter sobre empreendedorismo feminino, falamos sobre minhas maneiras preferidas de validar uma ideia de negócio.
Clique na imagem para ler e não esqueça de se inscrever.
PARA PENSAR, por Andro Kobilic
Andrinho, vulgo meu marido, acabou de publicar um texto muito legal sobre algumas reflexōes que estamos fazendo sobre como será o futuro com inteligência artifical e quais habilidades precisaremos ajudar nossa filha a desenvolver. O texto está disponível em inglês e português no botão abaixo.
Vamos acabando por hoje...
Até o próximo domingo.
Com carinho,
Larissa
A newsletter da Klavis
Chique é ter conhecimento. Uma Jovem Senhora é a newsletter da Klavis, uma escola online para mulheres que acreditam no poder do aprendizado e desejam se tornar mais cultas e interessantes. Com uma curadoria única de temas como história, arte, moda e cultura, somos mais que uma escola — somos uma comunidade de mulheres interessadas, que se inspiram e se apoiam para crescer juntas.
Mais uma ótima edição, dessa vez com uma leitura ainda mais fluida, por conta do visual. Mudar para o Substack foi um golaço de craque!
Oi Larissa, obrigado pelo seu conteúdo, estou aprendendo português e ler seu conteúdo me ajuda muito no aprendizado da língua pois são temas de meu interesse, também moro em París e gosto de visitar museus e ler seu newsletter me ajuda muito a ampliar meus conhecimentos.